domingo, 20 de fevereiro de 2011

Cabeleireiros

Desfilam no Chiado com as suas montras, a exibir o seu interior trendy, os seus cabeleireiros de penteados pouco naturais, de óculo da moda e de brinco que alarga a orelha, os seus sofás de massagens, as suas marcas de champô, os seus preçários proibitivos, os seus clientes.

Porquê? O ser humano no cabeleireiro é coisa que não dá prazer ao olhar... depois de lavar o cabelo, de cara vermelha do vapor e maquilhagem meia a escorrer lá se coloca em frente  ao espelho, de penteado a meio, a observar o processo, numa espera nervosa, desconhecendo o futuro, pensando se o sorriso amarelo final será suficiente para não ofender o profissional. E a pessoa sente que destoa, que não tem cabelos lisos e que talvez por isso se justifiquem as barbaridades que tem que ouvir. "Eu até te fazia o corte que pedes, mas o teu cabelo não serve". É todo um processo de ofensa psicológica, de incompreensão dos momentos de passagem a ferro de um cabelo desobediente.

Pois o meu melhor cabeleireiro é num banco de madeira, de televisão ligada na Sport TV, canja a ferver na panela mesmo ali ao lado, carpete enrolada para os cabelos caírem directamente para o chão e a cara da Natalie Portman escarrapachada no ecrã do computador. "Pronto, é para ficar assim".

A plateia olha sem interesse algum e o cabelo vai caindo, caindo, assustado, sem espelhos, num total desconhecimento do que deixa para trás. No final, há a surpresa, a sinceridade do "vou ter que me habituar", sem pessoas ofendidas, sem dinheiro deitado pela janela, sem dores nas costas das cadeiras de massagens, sem o pescoço ofendido pela total inadequação dos lavatórios dos cabeleireiros a pessoas baixas.

E o mais irónico é que me perguntam sempre: "bem, que corte radical, mudaste de cabeleireiro?". Não, é o mesmo há 25 anos.

4 comentários:

  1. Não haverá para aí um certo exagero, Margarida? A primeira vez que terás tido uma aproximação a essa arte foi lá para os idos de 90 e não consta que tivesse passado tanto tempo!... Mas compreendo-te bem. Se queres manter-te actualizada no que toca à profissão, basta ires até ao BBC numa sexta à noite e deixares-te fascinar pela profusão de loiras e loiros por metro quadrado. Se quiseres, levo-te comigo.

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  2. só para que conste que os lavatórios dos cabeleireiros tb n sao adequados para pessoas altas.
    aqui em baixo do meu trabalho há um de chineses que tb dá pra ver tudo o que acontece. cada vez que entro no prédio o recepcionista está a ver o que me parece ser uma telenovela asiática.
    e de repente a sport tv soa tao bem! ;)

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  3. "A plateia olha sem interesse algum" ... pudera, também ela te conhece há 25 anos e sabe que não deve comentar!!! Não é, filha?!
    Mãe

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  4. És uma farsante, Ana, então agora, no dia 25, que tu fazes... 25?
    Descontado o exagero, próprio do teu saber mergulhar na descodificação dos histerismos da sociedade, sempre confirmo que, agora sim! O teu cabelo senhoril confirma que o rabo de cavalo da infância foi muito bem abolido.
    E tens imensa sorte com a cabeleireira familiar, que ainda por cima te deve dar a provar do seu caldo...
    Como diz a tua mãe, nasceste com uma estrelinha... Berta

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