sábado, 21 de maio de 2011

Salvei dois ursinhos polares


Dois ursos polares com diamantes. Era bom e bonito e chique. Mas não são diamantes, são pxisback. Vieram de Paris para Lisboa num pequeno EasyJet e andam por aí à solta. Também há em preto, mas creio que os ursos polares são brancos. E têm brilhantes incrustados.

E eles vistos ao longe, sem o pormenor dos pêlos, do sinal e dos poros demasiado abertos, ficam-me muito bem.

sábado, 7 de maio de 2011

Scream

Era meia noite, fizemos questão de ir à meia noite pelas estradas mais sinuosas. E de comer muitas pipocas. E  de nos sentar na fila de trás "para curtir", longe da adolescência que se ria de cada vez que se via sangue no ecrã.

E lembrei-me daquela bebida de cor verde que sempre marcou presença nas nossas festas do pijama, a par com Scream, Exorcistas, Mitos Urbanos e histórias super verdadeiras de gente macabra que morria e ressuscitava. Festas que terminavam sempre com o vislumbrar de espíritos, que nos faziam ir para o telhado com jogos do copo e copos de pisang ambon.

E das fofocas nocturnas, das zangas femininas que durariam para sempre, das directas, das maquilhagens coloridas da loja dos 300, dos Carnavais cinco vezes por ano, das quedas constantes dos saltos altos, dos subornos que acatávamos em silêncio para que não fossem divulgados os papelinhos passados nas aulas de física que não tinham interesse nenhum.

E gostei.

sábado, 23 de abril de 2011

Retiro

"Hoje encho o teclado de sopinha enquanto faço uma proposta de remuneração e um cronograma e cuspo mais umas migalhas de sandes de ovo enquanto revejo uns textos antes de os enviar e falo uma horinha ao telefone, mas não saio daqui depois das 19h". Este é o pensamento das 13h. E às 19, dá-se o chamado renascer do sol. O renascer das 19. E o meu dia recomeça, sem pequeno almoço, sem lavagem de dentes, cara, cremes, perfumes, sem escolha de roupa adequada, sem as 8 horas de sono ou os Laços de Sangue antes de ir para a cama.

E assim o meu local de trabalho se tornou mais acolhedor. As minhas gavetas foram-se esvaziando de papeis (por vezes importantes), que deram lugar a pacotes de leite, bolachas, nutella, pastilhas elásticas, rebuçados, bens essenciais, de subsistência. E assim me encontrei com uma outra colega altruísta nas masmorras da agência, naquele assustador -3, dentro dos contentores do lixo à procura de papelada importantíssima, vinda de países longínquos onde parece que se fazem bons negócios. As duas a correr atrás do camião do lixo, com as mãos e os braços e a roupa inteira a cheirar a podre, camião que infelizmente "acabou de sair!" e engoliu os meus papeis e a minha reputação de pessoa organizada.

E assim dei por mim no fim de semana aos gritos com a senhora dos pastéis de Belém que, com 90 anos e um ar esfomeado, tentou passar à minha frente na fila para comer um pastel sentada à mesa porque já não aguentava as pernas. E depois com o empregado dos pastéis que se enganou a dar-me o troco. E com o meu namorado que observou que não era com esta pessoa que tinha começado a namorar. Um drama.

E assim perdi uns quilos e me tornei enfezada apesar das bolachas e do cancelamento da natação. E assim este blog foi perdendo vida, tal como eu, que fui inclusive abordada no comboio para frequentar aulas de apoio pessoal. Estava eu e uma carruagem inteira de deprimidos, sentados e de pé, mas apenas eu tive direito a uma festa nas costas, uma palavrinha e um panfleto sobre "como melhorar a minha aura". Estava a incomodar.

Mas estou confiante. Adoptei os saltos altos, a maquilhagem matinal, da hora de almoço e da hora de jantar e os soutiens com enchimento e acho que as coisas estão a voltar a pouco e pouco aos seus lugares.

sábado, 5 de março de 2011

Chamem-me snob

Não sei se é por nos últimos tempos ter trocado a cerveja pelo carioca de limão, porque está frio e o café à noite não me deixa ir dormir às 22h, mas esta coisa da geração à rasca não me inspira.

Não é pelo argumento da comparação autoritária que estrangula imediatamente o debate, que cai morto graças a banalidades acerca do Ultramar. Também não é pelo argumento utilizado pelos pseudoprecupados com os mais frágeis deste mundo cão, atirados para fábricas em condições miseráveis.

Mundo cão por mundo cão, partilhamos o mesmo, é-me igual.

E não é sobretudo por me fartar de assinar contratos milionários em agências de comunicação graças ao meu fantástico trabalho e dedicação largamente reconhecidos pelos grandes cérebros financeiros deste país.

É pelo termo. À rasca vai bem com outras palavras bonitas como "mijar". Certo, é uma palavra querida do povo português, que tem orgulho naquela que diz ser a sua melhor qualidade, "desenrasca". Tem o mesmo sufixo. Mas à rasca tresanda a pedinchice. E infelizmente não nos diferencia de nada. À rasca não é objectivo para ninguém. É um mau ponto de partida. Ir para a guerra à rasca é capaz de ser parvo. Mas ir para lá gritar que se está mesmo à rasquinha é burrice. Mais vale estar quieto

Chamem-me snob. Mas à rasca não, por favor. 

Falta-nos um objectivo. Falta-nos saber dizer o que queremos e não apenas o que somos. Ou seremos sempre a esganiçada dos "Deolindos" ou o rapazinho de bigode e Raybans.

Falta-nos poesia. Falta-nos inspirar os outros com a nossa luta, com a nossa guerra. Falta-nos crescer. Só um bocadinho.

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Blue Velvet

Armada em seguidora das tendências, lá fui eu experimentar o famoso Blue Velvet versão 4 euros da Mavala (o bom é o da Chanel, mas para o tempo que dura nas unhas, este serve). Contente com o resultado, lá fui exibindo as unhas,  em cima dos joelhos no comboio, olhando para elas de lado, reparando no quanto ficam bonitas ao sol.

E chegando ao trabalho, de unha feliz exposta em cima do teclado do computador, aguardando o elogio, oiço estas palavras: "Oh Margarida, o que é que te aconteceu, entalaste as unhas todas?".

É o Blue Velvet. Incompreensível.

domingo, 20 de fevereiro de 2011

Cabeleireiros

Desfilam no Chiado com as suas montras, a exibir o seu interior trendy, os seus cabeleireiros de penteados pouco naturais, de óculo da moda e de brinco que alarga a orelha, os seus sofás de massagens, as suas marcas de champô, os seus preçários proibitivos, os seus clientes.

Porquê? O ser humano no cabeleireiro é coisa que não dá prazer ao olhar... depois de lavar o cabelo, de cara vermelha do vapor e maquilhagem meia a escorrer lá se coloca em frente  ao espelho, de penteado a meio, a observar o processo, numa espera nervosa, desconhecendo o futuro, pensando se o sorriso amarelo final será suficiente para não ofender o profissional. E a pessoa sente que destoa, que não tem cabelos lisos e que talvez por isso se justifiquem as barbaridades que tem que ouvir. "Eu até te fazia o corte que pedes, mas o teu cabelo não serve". É todo um processo de ofensa psicológica, de incompreensão dos momentos de passagem a ferro de um cabelo desobediente.

Pois o meu melhor cabeleireiro é num banco de madeira, de televisão ligada na Sport TV, canja a ferver na panela mesmo ali ao lado, carpete enrolada para os cabelos caírem directamente para o chão e a cara da Natalie Portman escarrapachada no ecrã do computador. "Pronto, é para ficar assim".

A plateia olha sem interesse algum e o cabelo vai caindo, caindo, assustado, sem espelhos, num total desconhecimento do que deixa para trás. No final, há a surpresa, a sinceridade do "vou ter que me habituar", sem pessoas ofendidas, sem dinheiro deitado pela janela, sem dores nas costas das cadeiras de massagens, sem o pescoço ofendido pela total inadequação dos lavatórios dos cabeleireiros a pessoas baixas.

E o mais irónico é que me perguntam sempre: "bem, que corte radical, mudaste de cabeleireiro?". Não, é o mesmo há 25 anos.

domingo, 6 de fevereiro de 2011

A lágrima do Rei

Dizem que chorar faz bem. Que as pessoas que guardam para dentro são as que deprimem mais. Sinal de fraqueza embaraçoso e algo ridículo, mas que alivia, alivia. Depois de uma boa dor de cabeça, de um bom desgosto amoroso, de uma boa desgraça, não há nada como uma lagrimazita desajeitada, uns soluços, um kleenex, uma boa maquilhagem e uns óculos de sol.

Portanto eu gostava de saber qual o problema do povo em relação aos Sportinguistas. Quer dizer, uma pessoa desloca-se ao estádio, paga o bilhete, é ordeira, farta-se de gritar, está a 18 pontos, leva três do último lugar, fica sem o único capaz de nos fazer não perder e ainda é criticada por chorar?

Uma pessoa emociona-se, que aquilo é muita gente a bater palmas num estádio empatado! E está lá o Liedson a dizer qualquer coisa ao microfone que não se percebeu, embora ele se tenha fartado de falar e que provoca um turbilhão de sentimentos. Na senhora que arrastou o leão de peluche pelo metro do Campo Grande em hora de ponta e que se farta de chorar; no senhor amarelado de ar zangado que encolhe a lágrima como um guerreiro; no senhor menos contido, mais sensível, que nem consegue tirar a fotografia tal é a emoção.

É a lágrima terapêutica. Não sei se pelos 3 golos, se pelo 3º lugar, se pelos 32 pontos, se pelos 10 anos em que não fomos campeões, se pelo discurso tocante do Liedson. O que interessa é chorar. Para ver se as coisas melhoram. Raio de crise.