terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Parabéns à Cinemateca


Porque faz este ano 30 anos que passou a existir como Cinemateca Portuguesa e, este mês, tem um programão daqueles.

E ontem, às nove e meia da noite, lá ia o Manoel de Oliveira, ele e os seus 102 anos apoiados apenas por uma ligeiríssima bengala, para apresentar o seu novo filme aos Lisboetas, que, diga-se de passagem, são sempre os últimos a saber. "O Estranho Caso de Angélica".

Fez-nos rir, como sempre. Sublinhou a utilização de efeitos especiais, como nunca. Pediu "uma coisa daquelas que distribuem em Hollywood" póstuma ao Meliès, o pai dos ditos efeitos. E, de facto, lembrou-nos Meliès. Talvez por não se chamar James Cameron, talvez por não viver em Hollywood.  Talvez por ser demasiado irónico, talvez por ser desprezado pelo IMDb. Talvez por ter 102 anos e já não estar para essas andanças.

Pouco importa. O filme é bom, vejam. Ou a New Yorker não o teria nomeado como 8º do top 15 mundial. A ele e a outros dois filmes portugueses.

E por uma vez, sinto prazer em ver gente mal educada a passar à frente e a dar encontrões para apanhar o melhor lugar (e grátis!) entre os piores. Não é por isso que deixo de lançar o insulto, não é por isso que deixo de me enervar e não é por isso que deixo de ouvir o rapaz envergonhado a dizer ao ouvido "Oh Margarida, deixa lá". Mas que quase nos desmembremos para entrar na sala de cinema como nos desmembramos em filas para a casa de banho não deixa de ser bom sinal.

E já agora, fica a notinha, para os interessados, parabéns ao meu Sporting que não ganha nada (nada de importante...), mas que educa aqui o povo lá do alto do seu magnífico estádio, passando o Aniki Bóbó. Espero que ainda lá esteja, vale a pena ver no cinema.

3 comentários:

  1. Afinal sempre foste... espero não teres espremido o rapaz quando chegou perto de ti. Ele já é tão magrinho e, se foi espremido na sala, para quê a duplicação?
    É estranho, nunca vi nada do Manoel, talvez por ouvir dizer que as suas fitas são tão chatas. Agora, que as salas de cinema desse alto e ladrilhado clube do meu bairro andam muito vazias, lá isso andam.

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  2. De volta e em grande estilo! Ainda bem; já tínhamos saudades!
    Não tenho visto grande coisa do Manoel de Oliveira, porque não chegam aqui. É triste!
    Escreves imensamente bem, é um desperdício ter essa veia e não a dar aos outros, por isso continua a escrever!
    Bjs.

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  3. O tempo sobra-te. Ainda bem que o sabes aproveitar. Eu costumo dizer que o Aniki Bobó foi o melhor filme dele. Porque nunca consegui chegar ao fim de mais nenhum, tão estapafúrdios e psicadélicos me pareciam, puro gozo dos sentidos ou do intelecto, ao contrário dos filmes do nosso passado de comicidade irresistível, que nos educaram o gosto e continuam, eternos. As televisões nunca mais projectaram Manoel de Oliveira e nunca mais vi nada. Penso que as televisões deviam empenhar-se em o divulgar, pelo menos por respeito e homenagem à sua vetustez. Mas depois da morte dele, poderei ver e ilustrar-me. Se eu ainda existir. Berta

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