"Hoje encho o teclado de sopinha enquanto faço uma proposta de remuneração e um cronograma e cuspo mais umas migalhas de sandes de ovo enquanto revejo uns textos antes de os enviar e falo uma horinha ao telefone, mas não saio daqui depois das 19h". Este é o pensamento das 13h. E às 19, dá-se o chamado renascer do sol. O renascer das 19. E o meu dia recomeça, sem pequeno almoço, sem lavagem de dentes, cara, cremes, perfumes, sem escolha de roupa adequada, sem as 8 horas de sono ou os Laços de Sangue antes de ir para a cama.
E assim o meu local de trabalho se tornou mais acolhedor. As minhas gavetas foram-se esvaziando de papeis (por vezes importantes), que deram lugar a pacotes de leite, bolachas, nutella, pastilhas elásticas, rebuçados, bens essenciais, de subsistência. E assim me encontrei com uma outra colega altruísta nas masmorras da agência, naquele assustador -3, dentro dos contentores do lixo à procura de papelada importantíssima, vinda de países longínquos onde parece que se fazem bons negócios. As duas a correr atrás do camião do lixo, com as mãos e os braços e a roupa inteira a cheirar a podre, camião que infelizmente "acabou de sair!" e engoliu os meus papeis e a minha reputação de pessoa organizada.
E assim dei por mim no fim de semana aos gritos com a senhora dos pastéis de Belém que, com 90 anos e um ar esfomeado, tentou passar à minha frente na fila para comer um pastel sentada à mesa porque já não aguentava as pernas. E depois com o empregado dos pastéis que se enganou a dar-me o troco. E com o meu namorado que observou que não era com esta pessoa que tinha começado a namorar. Um drama.
E assim perdi uns quilos e me tornei enfezada apesar das bolachas e do cancelamento da natação. E assim este blog foi perdendo vida, tal como eu, que fui inclusive abordada no comboio para frequentar aulas de apoio pessoal. Estava eu e uma carruagem inteira de deprimidos, sentados e de pé, mas apenas eu tive direito a uma festa nas costas, uma palavrinha e um panfleto sobre "como melhorar a minha aura". Estava a incomodar.
Mas estou confiante. Adoptei os saltos altos, a maquilhagem matinal, da hora de almoço e da hora de jantar e os soutiens com enchimento e acho que as coisas estão a voltar a pouco e pouco aos seus lugares.
força! sao fases, a serio! respira fundo e aproveita os fins de semana!
ResponderEliminarEspero que tenhas aprendido a lição, Margarida: todo o papel cujo destino final seja o caixote do lixo, deverá ser acumulado em cima do tampo da secretária. Dentro das gavetas só deveremos ter coisinhas de uso particular, como os lenços de papel, um potinho de graxa para sapatos, o frasco de tinta para as unhas, o lápis para os olhos, um rolo de papel higiénico e até, porque não, umas saquetas, de preferência pretas, para depositar lixo, pois há sempre possibilidade de nos irmos desfazendo aos poucos do arquivo.
ResponderEliminarDeverás dar pelo menos seis meses de pousio às tais folhinhas - chama-se tempo de marinação ou maturação, pois é o tempo de duração de um contrato de trabalho - e dar-lhes uma vista de olhos rápida quando te quiseres desfazer delas pois há sempre o risco apego se te mostrares muito interessada (e não é nada conveniente apegarmo-nos a trabalho velho).
E passa por cá para almoçarmos na Laurinda, para poderes recuperar uns quilitos.
ah ah ah! tens todo o meu apoio! e sabes o que é q tb te podia ajudar? um fds em barcelona! é remédio santo. think about it e avisa-me qd decidires as dtas ;)
ResponderEliminarbeijinho
ale
Sobreviveste, miúda. És uma grande mulher! Beijinho ao bendito namorado.
ResponderEliminartia Paula
Segue-se que o acompanhamento da evolução dos netos (dos filhos também foi) é sempre feito no receio. Agora, que os saltos altos te façam estatelar-te na calçada à portuguesa. Avó
ResponderEliminarbiscoita, ainda es viva? espero que o trabalho nao te esteja a maltratar mto. tenho saudades!
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