quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Blue Velvet

Armada em seguidora das tendências, lá fui eu experimentar o famoso Blue Velvet versão 4 euros da Mavala (o bom é o da Chanel, mas para o tempo que dura nas unhas, este serve). Contente com o resultado, lá fui exibindo as unhas,  em cima dos joelhos no comboio, olhando para elas de lado, reparando no quanto ficam bonitas ao sol.

E chegando ao trabalho, de unha feliz exposta em cima do teclado do computador, aguardando o elogio, oiço estas palavras: "Oh Margarida, o que é que te aconteceu, entalaste as unhas todas?".

É o Blue Velvet. Incompreensível.

domingo, 20 de fevereiro de 2011

Cabeleireiros

Desfilam no Chiado com as suas montras, a exibir o seu interior trendy, os seus cabeleireiros de penteados pouco naturais, de óculo da moda e de brinco que alarga a orelha, os seus sofás de massagens, as suas marcas de champô, os seus preçários proibitivos, os seus clientes.

Porquê? O ser humano no cabeleireiro é coisa que não dá prazer ao olhar... depois de lavar o cabelo, de cara vermelha do vapor e maquilhagem meia a escorrer lá se coloca em frente  ao espelho, de penteado a meio, a observar o processo, numa espera nervosa, desconhecendo o futuro, pensando se o sorriso amarelo final será suficiente para não ofender o profissional. E a pessoa sente que destoa, que não tem cabelos lisos e que talvez por isso se justifiquem as barbaridades que tem que ouvir. "Eu até te fazia o corte que pedes, mas o teu cabelo não serve". É todo um processo de ofensa psicológica, de incompreensão dos momentos de passagem a ferro de um cabelo desobediente.

Pois o meu melhor cabeleireiro é num banco de madeira, de televisão ligada na Sport TV, canja a ferver na panela mesmo ali ao lado, carpete enrolada para os cabelos caírem directamente para o chão e a cara da Natalie Portman escarrapachada no ecrã do computador. "Pronto, é para ficar assim".

A plateia olha sem interesse algum e o cabelo vai caindo, caindo, assustado, sem espelhos, num total desconhecimento do que deixa para trás. No final, há a surpresa, a sinceridade do "vou ter que me habituar", sem pessoas ofendidas, sem dinheiro deitado pela janela, sem dores nas costas das cadeiras de massagens, sem o pescoço ofendido pela total inadequação dos lavatórios dos cabeleireiros a pessoas baixas.

E o mais irónico é que me perguntam sempre: "bem, que corte radical, mudaste de cabeleireiro?". Não, é o mesmo há 25 anos.

domingo, 6 de fevereiro de 2011

A lágrima do Rei

Dizem que chorar faz bem. Que as pessoas que guardam para dentro são as que deprimem mais. Sinal de fraqueza embaraçoso e algo ridículo, mas que alivia, alivia. Depois de uma boa dor de cabeça, de um bom desgosto amoroso, de uma boa desgraça, não há nada como uma lagrimazita desajeitada, uns soluços, um kleenex, uma boa maquilhagem e uns óculos de sol.

Portanto eu gostava de saber qual o problema do povo em relação aos Sportinguistas. Quer dizer, uma pessoa desloca-se ao estádio, paga o bilhete, é ordeira, farta-se de gritar, está a 18 pontos, leva três do último lugar, fica sem o único capaz de nos fazer não perder e ainda é criticada por chorar?

Uma pessoa emociona-se, que aquilo é muita gente a bater palmas num estádio empatado! E está lá o Liedson a dizer qualquer coisa ao microfone que não se percebeu, embora ele se tenha fartado de falar e que provoca um turbilhão de sentimentos. Na senhora que arrastou o leão de peluche pelo metro do Campo Grande em hora de ponta e que se farta de chorar; no senhor amarelado de ar zangado que encolhe a lágrima como um guerreiro; no senhor menos contido, mais sensível, que nem consegue tirar a fotografia tal é a emoção.

É a lágrima terapêutica. Não sei se pelos 3 golos, se pelo 3º lugar, se pelos 32 pontos, se pelos 10 anos em que não fomos campeões, se pelo discurso tocante do Liedson. O que interessa é chorar. Para ver se as coisas melhoram. Raio de crise.

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

O povão escreve um conto


Hoje em dia, tudo escreve livros. Toda a história dá livro. Há-de ser o Apito Dourado, a Carolina Salgado, as aventuras amorosas da Margarida Rebelo Pinto, as aventuras amorosas de Carlos Cruz, as previsões amorosas da Maya, os Gatos, o Mourinho, a Rita Ferro Rodrigues, o José Rodrigues dos Santos, tudo o que é equipa de futebol, tudo o que viaja, tudo o que cozinha, tudo o que veste bem e o povão.

O povão de vez em quando também escreve. Por isso, o povão orgulha-se de contar uma pequena história num livro de cinco histórias. Uma história que, se quiserem ler, terão que comprar, que o povão não dá nada a ninguém. Salvo raras excepções.

Quando o livro sair, auto publicito aqui outra vez. Para já, fica o teaser. E a alegria do povão.