Começavam os dias a arrefecer (lá para os 15 graus) e a chuva a chegar sempre sem trazer neve e recebi a excitantíssima notícia de um ring de patinagem no gelo em pleno Rossio. Que era enorme, que era lindo, que era iluminado, que era de gelo, que era ao ar livre (an?) que parecia Nova Iorque, que não tinha assim tanta gente (como?), que tínhamos mesmo que ir, que o meu braço meio partido não podia servir de desculpa.
Não fui. Mas contei a toda a gente, sempre com o mesmo entusiasmo. E se fossemos lá numa hora de almoço? E se fossemos depois de um copinho de tinto? E porque eu já andei e é muito giro e porque ainda hoje tenho uma queimadura graças a um ring de patinagem no gelo (na qual pus água oxigenada, a água benta da minha casa de banho que agora é proibida) e porque é no Rossio que está todo iluminado.
Há uns dias, passei no ring. Meia dúzia de miúdos a patinar ao som da Romana, envoltos em publicidade da Santa Casa. E o ring de gelo ficou, de facto, lá para as cidades onde neva. Porque o do Rossio, pessoas cosmopolitas, o do Rossio é de plástico. Plástico branco, mas plástico.
Fez-me lembrar aqueles momentos deprimentes em que entramos na escola primária dez anos depois e nos apercebemos de que tudo era uma ilusão de tão pequenino que, na realidade, era. E o chão da minha cozinha. Também me fez lembrar o chão da minha cozinha.
E tudo são recordações, tudo termina nas saudades dos sentimentos passados, na sempre branca de graça a paisagem que não sabemos, vista através da vidraça do lar que nunca teremos... Mas esta que viste - ou não viste? - é de plástico branco, a condizer com a inverdade da nossa realidade, do nosso cosmopolitismo, como lhe chamas, falso, apinocado, saloio... Mas as crianças divertem-se no seu ring, e é isso que conta.
ResponderEliminarBerta
Todos os dias passo por esse ringue. E já me tinha perguntado quando tiram a pista dali. Acho que há uma permanente no parque das Nações. Até já a imaginei com carrinhos de choque, no verão, com vendedores de pita, pão com chouriço e uma imperialzita à volta da estátua.
ResponderEliminarDe facto o sítio em que a coisa está implantada já não permite que faça o meu corta-mato até aos Restauradores pelo meio dos pombos, apanhando com os borrifos refrescantes da fonte. E essa é uma grande contrariedade.
Eu sei, filha, que andas a trabalhar demais e que passas muitas horas fora de casa! Mas o chão da cozinha de PLÁSTICO BRANCO!!!
ResponderEliminarMãe
Acabou-se o motivo pelo qual escreveste esta crónica, Margarida. Esta manhã quando passei no local estavam a desmontar o estrado da santa casa. Lá se vai a bifana.
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